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De vendedor de camisas do Bob Marley a Anjinho: torcedor símbolo do Fla vive ‘roteiro divino’ e sonha com Mundial
Marcelo Nuba começou o personagem no carnaval de 2002 e virou figurinha carimbada entre os rubro-negros
“Alegria, alegria”. Quem escuta o bordão pelas arquibancadas do Maracanã já sabe que o Anjinho do Flamengo está por perto. Há 23 anos, Marcelo Nuba, nascido em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro, adotou o personagem em um ‘roteiro divino’ e virou símbolo de esperança entre os rubro-negros.
- Essa reportagem faz parte do especial Volta ao Mundo em 90 Minutos, que conta histórias envolvendo as experiências de Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo no Mundial de Clubes
Tudo começou em um sábado de carnaval, em 2002. Inicialmente, a fantasia foi escolhida para o desfile do tradicional bloco Cordão da Bola Preta, no Rio de Janeiro. Como bom rubro-negro, o torcedor conseguiu ingressos para um clássico e não pensou duas vezes para ir ao Estádio do Maracanã.
“Foi tudo muito leve, sem intenção nenhuma, a gente tava curtindo o carnaval. Conseguimos os ingressos e fomos para a antiga geral, onde nasceu a conexão com a nação de ser o anjo da guarda do Flamengo”, conta em conversa com o Terra, diretamente da sala de embarque do Aeroporto de Guarulhos, onde embarcou rumo aos Estados Unidos.
Logo de cara, Nuba caiu nos braços da galera na antiga geral do estádio. Em uma época ainda sem a facilidade das fotos em celulares, o torcedor foi celebrado por outros rubro-negros, que o viram como sinal de uma nova fase em meio ao período de ‘vacas magras’ na Gávea.
“Todo mundo ficava: ‘Pô, meu irmão, caramba, agora vai dar tudo certo, agora o dinheiro vai vir, a gente tem anjo. O Flamengo não cai mais não. Caraca, tu tem que vir aqui o tempo todo’. Todo mundo me tocava, se benzia ao mesmo tempo. Foi uma bênção de Deus, conforme eu ia saindo do estádio os torcedores vinham me botando na ‘corcunda’, me levando: ‘anjinho, anjinho’. Depois, a imprensa também veio. Foi avassaladora”, explica.
O sucesso do Anjinho rendeu bons frutos para o flamenguista, que hoje, tem o personagem como um produto. Em meio às idas aos jogos dentro e fora do Maracanã, o torcedor faz presença em eventos e comercializa produtos, como faixas, chaveiros, bonés, bonecos e camisetas.
Antes de sonhar em ser um torcedor símbolo da nação rubro-negra, contudo, Nuba já fez de quase tudo que se pode imaginar. Venda de jornais, energéticos e camisas do Bob Marley em eventos de reggae, cursos de desenho industrial, teatro, garçom e até participações em programas da Globo são alguns dos exemplos citados por ele.
Uma vida dedicada ao Flamengo
Tanto amor pelo Flamengo não surgiu de uma hora para a outra. Criado no bairro de Vigário Geral, o jovem Nuba já costumava usar a camisa do clube nas peladas da região. Um jogador de várzea de respeito, ele tinha Zico e Adílio como ídolos.
Os contatos iniciais com os jogos do Rubro-Negro foram por meio do radinho de pilha do avô, que foi quem o levou ao Maracanã pela primeira vez, aos 8 anos. Na ocasião, o Flamengo bateu o Bangu por 2 a 1, gols marcados justamente por Zico e Adílio.
Hoje, Nuba já perdeu as contas dos jogos a que foi ao estádio carioca, sem contar outros países. De cabeça, ele citou Argentina, Chile, Peru, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador, Paraguai, Estados Unidos, Portugal, França, Holanda, México, Espanha, Irlanda, Catar e Marrocos.
“O Flamengo é tudo na minha vida. Não existe loucura para torcer e viver o Flamengo, existem pessoas que são escolhidas”, diz ao se declarar ao clube de coração.
Em duas dessas viagens, o Anjinho Rubro-Negro viu de perto o Flamengo disputar o Mundial de Clubes. Na primeira delas, a que mais o entristeceu: derrota por 1 a 0 para o Liverpool, na prorrogação da decisão do torneio
“Doeu mais [contra o Liverpool], porque no [lance do] Lincoln, eu estava atrás do gol. Então, vi o lance todo. Eu não perderia aquele gol. Qualquer atacante, um Pedro dominava a bola, qualquer um. Mas não era pra ser”, recorda.
Na outra, a derrota aconteceu ainda na semifinal, por 3 a 1 para o Al Hilal, no Marrocos. Dessa vez, a esperança de título era menor, mas a passagem pelo país foi marcante graças à maneira com que foi recepcionado pelos locais.
Sonho nos Estados Unidos
Agora, Nuba lutou contra o tempo para ir aos Estados Unidos. Após parceiros comerciais cancelarem a sua ida ao Mundial de Clubes, o Anjinho contou com o apoio da patrocinadora do clube carioca e de embaixadas flamenguistas em solo norte-americano, onde terá uma série de compromissos com seu personagem.
Trabalhos à parte, o torcedor vive a expectativa de ver o bicampeonato mundial do Flamengo. O primeiro título saiu em 1981, quando Nuba ainda era criança.
“Eu espero uma participação do Flamengo com muita raça, muito amor e muita dedicação. A gente sabe que não é fácil, mas são 90 minutos, tudo pode acontecer. Existe uma preparação junto com o Filipe Luís, que está focado para esse grande momento. Jogadores que estão dentro do elenco encorpado; a maioria tem uma bagagem de futebol europeu. O Flamengo está com o elenco faixa-preta para poder surpreender muita gente aí nessa fase de mata-mata. Primeiro, fazer a nossa parte aí nessa fase de grupo, respeitando sempre os adversários, mas com a nação invadindo. No fim, vai dar tudo certo”, completa.
No Grupo D da competição, o Flamengo estreia no dia 16 de junho, às 22h (horário de Brasília), contra o Espérance, da Tunísia, no Lincoln Financial Field, na Filadélfia. Ainda na primeira fase, o time de Filipe Luís enfrenta o Chelsea, da Inglaterra, e o Los Angeles, dos Estados Unidos.