PF aponta que ‘Abin paralela’ espionou quase 1,8 mil celulares no governo Bolsonaro
Relatório revela uso de software israelense para monitorar ilegalmente ministros do STF, políticos e jornalistas entre 2019 e 2021
O esquema de espionagem ilegal montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) monitorou quase 1,8 mil telefones entre fevereiro de 2019 e abril de 2021, segundo investigações da Polícia Federal (PF) sobre a chamada “Abin Paralela”.
Segundo a PF, Bolsonaro era “centro decisório” e definiu alvos de espionagem ilegal. Procurada, a defesa do ex-presidente ainda não se manifestou.
De acordo com o relatório final da PF, 34 credenciais do programa israelense First Mile foram usadas para espionar 1.796 terminais telefônicos, resultando em 60.734 consultas feitas de forma irregular. O software é capaz de rastrear celulares explorando vulnerabilidades nas redes de telefonia 2G e 3G do Brasil.
O Estadão teve acesso ao relatório de 1.125 páginas, cujo sigilo foi levantado nesta quarta-feira, 18, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. As investigações apontam que o órgão de inteligência foi utilizado para espionar ilegalmente autoridades e opositores durante a gestão Jair Bolsonaro.
O relatório detalha que houve um pico de uso do sistema espião em outubro de 2020, mês das eleições municipais. Diversas autoridades e políticos foram monitorados, incluindo ministros do STF, deputados, senadores e jornalistas.
Diante do grande volume de alvos, a PF classificou as vítimas da espionagem em oito categorias: geral, servidores do TSE e institutos de pesquisa, Poder Judiciário, Poder Legislativo, Ministério Público, servidores públicos, proteção do núcleo político e contexto não identificado.
