Parque do Bixiga vai encolher antes de sair do papel? Entenda como o Metrô vai usar a área
Cerca de 9% da futura área verde da Bela Vista receberá instalações da Linha 19-Celeste
Antes de sair efetivamente do papel, o futuro Parque do Bixiga, na Bela Vista, terá uma parte de sua área destinada a um canteiro de obras do Metrô.
Representantes do Teatro Oficina e de movimentos de bairro defendem a criação de um grupo de trabalho conjunto com a Prefeitura para o desenho do futuro parque. Arquitetos e apoiadores da companhia desenvolveram uma proposta que inclui a reabertura do Rio Bixiga, que passa pelo terreno e hoje está oculto.
Por enquanto, o espaço se chama Parque do Bixiga. Na Câmara, vereadores divergiram sobre a possibilidade de homenagear Zé Celso ou Silvio Santos (Parque Abravanel). Durante a votação do projeto, a ideia de escolher o nome de Adoniran Barbosa também foi lançada, mas não há perspectiva de uma definição nesse aspecto.
Parque do Bixiga foi grande sonho de Zé Celso
A área de 11,1 mil m² do parque foi adquirida pela Prefeitura de São Paulo em agosto de 2024 por R$ 65 milhões. O poder municipal e o Sisan Empreendimentos, do Grupo Silvio Santos, dono do local desde a década de 1980, entraram em um acordo no ano passado, após após quatro décadas de mobilização popular pela construção do parque,
O principal idealizador do parque foi o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, morto em julho de 2023. Em textos-manifesto, performances e mobilizações públicas, Zé Celso juntou apoiadores diversos contra a construção de edifícios no entorno do Teatro Oficina, que se localiza na Rua Jaceguai, desde os anos 1960.
Entre as vitórias de Zé Celso após a venda dos imóveis vizinhos à Sisan Empreendimentos está o tombamento da sede da companhia nas esferas municipal, estadual e federal (com diferentes perfis e propostas de proteção). O imóvel tem projeto da reconhecida arquiteta Lina Bo Bardi (conhecida especialmente pelo Masp e o Sesc Pompeia), em conjunto com Edson Elito.
A mobilização contra construções no entorno do parque cresceu especialmente após 2000, quando foi aprovado um projeto para construir um shopping no local. Outra proposta que incorporava o teatro ao centro comercial foi apresentada quatro anos depois, também criticada pelo Oficina e posteriormente abandonada pela iniciativa privada.
Depois do shopping, foi a vez das torres. Em 2008, a Sisan propôs erguer um condomínio de três prédios. A obra teve entraves para a aprovação, mas chegou a obter decisões favoráveis nos órgãos municipal e estadual de patrimônio ao longo daquela década e da seguinte, mas não saiu do papel.
Parte dos recursos do parque vem de acordo por improbidade administrativa
Boa parte dos recursos para a compra do parque é proveniente de um acordo relativo a uma ação civil de improbidade administrativa da Prefeitura de São Paulo e do Ministério Público de São Paulo contra a universidade Uninove.
Em 2013, investigação do MP-SP relativa à chamada "máfia dos fiscais" apontou que a universidade havia pago propina para agentes públicos para escapar da fiscalização. A destinação de parte dos valores à criação do parque foi sugerida pela Promotoria Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital.
O acordo no valor de R$ 1 bilhão é o maior já fechado pelo Ministério Público do estado e previa o destino de ao menos R$ 51 milhões da multa pelo não recolhimento de tributos justamente para o Parque do Bixiga.
Com o pagamento desse valor, além da cessão de um imóvel à Secretaria Municipal de Saúde e outras medidas, a situação da instituição de ensino com o Município será regularizada. O Grupo Silvio Santos havia concordado com o valor.
